Respiras
como se pela garganta
deslizasse todo o azul de Espanha
a noite
a língua do vento
como se pela garganta
deslizasse todo o azul de Espanha
a noite
a língua do vento
sem outras mãos
outros olhos
para beber no escuro
para beber no escuro
Deita-te
sobre o meu peito
inclina
até ao chão
as frágeis
hastes da beleza.
sobre o meu peito
inclina
até ao chão
as frágeis
hastes da beleza.
As palavras
onde te escondes
onde te escondes
altas
passam
passam
passam as águas
dóceis
do verão
dóceis
do verão
É tempo
já as amoras sangram
é tempo ainda
já as amoras sangram
é tempo ainda
abre-me as portas do teu corpo
ó meu amor
ó meu amor
deixa-me entrar.
Já sobre ti
de aroma em aroma
os lábios todos
caem
de aroma em aroma
os lábios todos
caem
nupciais ou mortais os corpos
são para penetrar
lenta
oh
lentamente.
são para penetrar
lenta
oh
lentamente.
As mãos
sobre a nuca
delicadas.
sobre a nuca
delicadas.
Sobre as ervas
o leite
espesso do silêncio.
o leite
espesso do silêncio.
Eugénio de Andrade
Portugal (Castelo Branco) 1923-2005
in Véspera de Água
Editor: Assirio & Alvim
photo by google
Portugal (Castelo Branco) 1923-2005
in Véspera de Água
Editor: Assirio & Alvim
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