Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

29 de dezembro de 2011

Não sei quantas almas tenho : Alberto Caeiro


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
in Poesias de Alberto Caeiro

O meu olhar é nítido como um girassol : Alberto Caeiro




O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Fernando Pessoa 
(Portugal 1888-1935)
in O guardador de rebanhos

Cecília Meireles: Nem tudo é fácil


É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil 

fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!!



Cecília Meireles
(Brasil 1901-1964)

28 de dezembro de 2011

Um beijo : Olavo Bilac


Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto...



Olavo Bilac
(Brasil 1865-1918)
photo by Google

Vinícius de Moraes: Soneto da separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinícius de Moraes
(Brasil 1913-1980)

William Shakespeare: Soneto LXXXVIII


Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem. 


Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória. 


Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício, 


Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.


William Shakespeare
(England 1564-1616)

Creio no mundo como num malmequer : Alberto Caeiro


Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...



Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
in Poesia de Alberto Caeiro

Para fazer uma obra de arte não basta ter talento



Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, 
não basta ter força, 
é preciso também viver um grande amor.

Que passem os minutos, dias e anos...
Todas as estações do tempo!
Que eu viva, qual tolo, todas as ilusões
pueris de sentimento...

Amar-te-ei, em todas as épocas,
em todo momento
Que passem as águas por muitas pontes
e que debruce a saudade por muitas
serras e montes, amar-te-ei,
como se fosse a primeira vez e única,
apesar das tantas aventuras!
Ainda além deste céu, nas alturas.
Eternamente...
Ainda que outro alguém o tenha
entre lençóis confidentes,
mesmo que os beijos sejam molhados
e quentes,
à parte, nossa alma vaga enamorada,
sobre qualquer prazer da carne ou qualquer
entrega fugaz .
Eternas, apaixonadas
Amar-te-ei, sobre qualquer dor que me pese
o orgulho ferido, o despeito revolvido!
Sobre qualquer punhalada em meu coração,
sobre qualquer distância a nós imputada...
Porque sei, amor de mim , que ainda assim...
Não é pequeno o nosso comprometimento .
Ah! Soubessem todos o tamanho !
Pobre carne, pequeno tempo !



Wolfgang Amadeus Mozart
(Austria 1756-1791)

O amor significa o corpo, a alma, a vida, todo o ser


O amor significa o corpo, a alma, a vida, todo o ser.
Sentimos amor tal como sentimos o calor do sangue que
nos corre nas veias, respiramos amor tal como respiramos ar,
levamo-lo connosco tal como levamos os nossos pensamentos. 
Nada mais existe para nós.

Guy de Maussant

Oh, como são belas as flores do teu jardim


Oh, como são belas as flores do teu jardim,
As flores do teu jardim são formosas;
As flores azuis do teu olhar e as flores escuras do teu cabelo;
As flores da tua boca, com gotas de orvalho
E os botões rosa dos teus seios,
E a flor da curva da tua mão
Onde a minha mão repousa.

Helen Hoyt

Não me atrevo a pedir um beijo




Não me atrevo a pedir um beijo,
Não me atrevo a implorar um sorriso,
Pois, ganhando um ou outro,
Não ficaria eu orgulhoso?

Não, não, o mais vasto alcance
Do meu desejo será
Pedir para beijar o ar
Que acabou de te beijar a ti.

Robert Herrick

Importante não foi o dia em que te conheci

Importante não foi o dia em que te conheci, 
mas o momento em que passaste a viver
dentro de mim.


Um momento não é tudo…
mas tu és tudo num só momento.

cantodaalma

Esta cama é a nossa ilha


Esta cama é a nossa ilha. Apenas um gato compartilha
a nossa solidão.
Escutamos as vozes do mar mas não prestamos atenção.
Perdemos a noção do tempo.
Ele espalha-se pelo chão e pelas cadeiras.
Este é o nosso lugar, o nosso paraíso.
Aqui redescobrimo-nos mutuamente, dormimos nos braços um do outro.
Aqui podemos reencontrar-nos.
O mundo separa-nos de forma violenta.
Por vezes mal sabemos se existimos para além das suas brutais exigências.
Só aqui, nos braços um do outro, redescobrimos a alegria.
Só aqui somos nós mesmos e também um do outro.

PAM BROWN

27 de dezembro de 2011

No momento em que te conheci, abris-te uma morada no meu coração.



No momento em que te conheci,
abris-te uma morada no meu coração.
(Nunca antes lá entrara ninguém.)
Entras-te sem pedir e ali ficas-te.
Sem que soubesses fechei a porta
e deitei a chave fora.
Ainda lá habitas e habitarás, até
que a morte nos separe.

Poema da noite: Charles Chaplin



Já chorei vendo fotos e ouvindo musica;
Já liguei só para ouvir uma voz;
Me apaixonei por um sorriso;
Já pensei que fosse morrer de saudade;
E tive medo de perder alguem especial... 

(e acabei perdendo)
Já pulei e gritei de tanta felicidade;
Já vivi de amor e fiz muitas juras eternas... 

"quebrei a cara muitas vezes!"
Já abracei para proteger;
Já dei risadas quando não podia;
Já fiz amigos eternos;
Amei e fui amado;
Mas tambem já fui rejeitado;
Fui amado e não amei...



Charles Chaplin
(England 1889-1977)

Castro Alves, Amar e ser amado


Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus labios em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante, amado
Como um anjo feliz... que pensamento!?



Castro Alves
(Brasil 1847-1871)
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A sorte do amor que teve: Augusto Branco




Um dia você conhece alguém e se dedica imensamente a essa pessoa...
Você entrega-se à ela com toda alma e coração.
Na verdade, desde então não existe um único pensamento 

seu em que esta pessoa não apareça.
Você à ama sobremaneira, e chega mesmo a esquecer de si, 

para cuidar unicamente dela,
até que um belo dia teu mundo desaba e você percebe
cruelmente
que o sentimento que você nutria era só seu,
que não havia nada além daquele teu imenso amor por ela.
Neste dia, não te desaponte, não entristeça.
Olhe para os céus e agradeça por ter conhecido a sublime dádiva do amor,
mesmo que apenas você tenha realmente amado.
E por ter sido real e verdadeiro o teu amor
inspire-se, e cante para sempre os momentos felizes
da sorte do amor que teve...



Augusto Branco
(Brasil)

William Blake: Há um sorriso que é de amor


Há um sorriso que é de amor
E há um sorriso de maldade,
E há umsorriso de sorrisos
Onde os dois sorrisos têm parte.

E há uma careta de ódio
E há uma careta de desdém
E há uma careta de caretas
Que te esforças em vão pra esquecê-la bem

Pois ela fere o coração no cerne
E finca fundo na espinha dorsal
E não um sorriso que nunca tenha sido sorrido
Mas só um Sorriso solitário

Que entre o berço e o túmulo
Somente uma vez se sorri assim
Mas quando é sorrido uma vez
Todas a tristeza tem seu fim


William Blake
(England 1757-1827)

Deitar-me contigo sob o mesmo tecto


 
Deitar-me contigo sob o mesmo tecto brilhante com 
sombras de água corrente - é bom. 
Mas melhor do que tudo é a chuva 
– batendo mansamente contra as janelas ou tamborilando, 
bramindo, jorrando da caleira 
– e nós dois, quentes, secos e seguros, 
juntos, nos braços um do outro.

Pam Brown

A tua presença enche toda a casa




A tua presença enche toda a casa. Mesmo quando estás longe, dou comigo a ver se te oiço. Abro portas, na esperança de te encontrar aí, viro-me para falar e sinto o coração morrer um pouco no silêncio. 
Tu estás no meu pensamento e no meu coração. 
Estás no próprio ar que respiro.

Rosanne Ambrose-Brown

A suprema felicidade da vida é


A suprema felicidade da vida é a convicção
de se ser amado por aquilo que somos, ou,
para ser mais preciso,      
de se ser amado apesar do que somos.

Victor Hugo

Dá-me um beijo e depois mais vinte...


Dá-me um beijo e depois mais vinte, em seguida
junta mais cem a esses vinte: e mil a esses cem:
assim continua a beijar, até esses mil
a um milhão chegar; Triplica esse
milhão, e estando isso terminado, voltemos a
beijar-nos, como tínhamos começado.

Robert Herrick

Oh amor! Oh fogo!




Oh amor! Oh fogo! Ele sorveu uma vez com o prolongado
beijo toda a minha alma através dos meus lábios,
como  a luz do sol bebe o orvalho.

Alfred Tennyson

Enquanto houver amor verdadeiro e puro


Enquanto houver amor verdadeiro e puro no mundo,
o acto de brigar continuará a ser um dos mais belos
passatempos dos amantes…
A sua música é a melodia do coração e a poesia da alma.
O seu êxtase é o encanto da juventude, a alegria da
idade viril e a suprema felicidade da velhice.

Alfred Fowler

A realidade é que eu não te amo com os meus olhos





A realidade é que eu não te amo com os meus olhos,
que descobrem em ti mil falhas. Mas com o meu
coração, que amam o que eles desprezam e,
apesar do que vê, adora apaixonar-se.

William Sheakspeare

Todo o amor: Augusto dos Anjos


A maior covardia de um homem
É despertar o amor de uma mulher
Sem ter a intenção de amá-la

Nenhum homem vale as lágrimas de uma mulher
Nenhum homem é merecedor de fechar um sorriso feminino
O homem que despreza o coração de uma mulher doce e pura
É, sem dúvida, um tolo
E sequer é merecedor do sentimento de desprezo

Mas o maior erro de uma mulher
É acreditar que encontrará em um homem
O Amor que apenas dentro dela está

Quando um homem ama uma mulher
É apenas ele o agraciado
Por que a mulher já é em si todo o Amor
Toda a Beleza
E toda a Graça...



Augusto dos Anjos
(Brasil 1884-1914)
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26 de dezembro de 2011

Aula de amor: Bertolt Brecht



Mas, menina, vai com calma
Mais sedução nesse grasne:
Carnalmente eu amo a alma
E com alma eu amo a carne.

Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr.

Muita menina sentiu perigo
Desde que o deus no cisne entrou
Foi com gosto ela ao castigo:
O canto do cisne ele não perdoou.


Bertolt Brecht
(German 1898-1956)

Canção de Amor: Rainer Maria Rilke


Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.



Rainer Maria Rilke
(Áustria 1875-Suiça 1926)

Não tem olhos solares, meu amor: William Shakespeare


Não tem olhos solares, meu amor;
Mais rubro que seus lábios é o coral;
Se neve é branca, é escura a sua cor;
E a cabeleira ao arame é igual.

Vermelha e branca é a rosa adamascada
Mas tal rosa sua face não iguala;
E há fragrância bem mais delicada
Do que a do ar que minha amante exala.

Muito gosto de ouvi-la, mesmo quando
Na música há melhor diapasão;
Nunca vi uma deusa deslizando,


Mas minha amada caminha no chão.
Mas juro que esse amor me é mais caro
Que qualquer outra à qual eu a comparo.



William Shakespeare
(England 1564-1616)
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É urgente o Amor : Eugénio de Andrade


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
é urgente destruir certas palavras.
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.



Eugénio de Andrade
(Portugal 1923-2005)

O Chão é a cama :Carlos Drummond de Andrade


O Chão é a cama para o amor urgente,
O amor não espera ir para a cama.
Sobre o tapete no duro piso,
a gente compõe de corpo a corpo a última trama.
E para repousar do amor, vamos para a cama!




Carlos Drummond de Andrade
(Brasil 1902-1987)
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Vinícius de Moraes: Amo-te tanto, meu amor...


Amo-te tanto, meu amor...não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Nunca, sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de amar assim muito amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.



Vinícius de Moraes
(Brasil 1913-1980)

Cecília Meireles: De longe te hei de amar


De longe te hei-de amar
- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo, constância.

Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrância
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogância?

E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.



Cecília Meireles
(Brasil 1901-1964)

Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!



Alvares de Azevedo
(Brasil 1831-1852)
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23 de dezembro de 2011

Pablo Neruda: Ao crepusculo


Não...
Depois de te amar eu não posso amar mais ninguém.
De que me importa se as ruas estão cheias de homens esbanjando beleza e promessas ao alcance das mãos;
Se tu já não me queres, é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando estavas comigo.
Quantas vezes vezes sem motivo nenhum, ouvi teu riso, rindo feliz, como um guizo em tua boca.
E a todo momento, mesmo sem te beijar, eu estava te beijando...
Com as mãos, com os olhos, com o pensamento, numa ansiedade louca.
Nosso olhos, ah meu deus, os nossos olhos...
Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem adeus.
Não era adeus no entanto, o que estava vivendo nos meus olhos e nos teus,
Era extase, ternura, infinito langor.
Era uma estranha, uma esquisita misturade ternura com ternura, em um mesmo olhar de amor.
Ainda ontem, cada instante uma nova espera,
Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite.
E de repente... de repente eu me sinto como um velho muro.
Cheio de eras, embora a luz do sol num delírio palpite.
Não, depois de te amar assim,
Como um deus, como um louco,
nada me bastará e se tudo tão pouco,
Eu deveria morrer.

Pablo Neruda
(Chile 1904-1973)

Este é um poema de amor: Cora Coralina


Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
"Poeminha Amoroso"

Cora Coralina
(Brasil 1889-1985)

Pablo Neruda: É assim que te quero, amor

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.



Pablo Neruda
(Chile 1904-1973)

Mahatma Gandhi: À descoberta do amor


Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.


Mahatma Gandhi
(Indie 1869-1948)

Quando a gente ama alguém de verdade



Quando a gente ama alguém de verdade
Esse amor não se esquece
O tempo passa, tudo passa, mas no peito
O amor permanece
E qualquer minuto longe é demais
A saudade atormenta
Mas qualquer minuto perto é bom demais
o amor só aumenta

Vivo por ela
Ninguém duvida
Porque ela é tudo
Na minha vida

Eu nunca imaginei que houvesse no mundo
Um amor desse jeito
Do tipo que quando se tem não se sabe
Se cabe no peito

Mas eu posso dizer que sei o que é ter
Um amor de verdade
E um amor assim eu sei que é pra sempre
É pra eternidade

Quem ama não esquece quem ama
O amor é assim
Eu tenho esquecido de mim
Mas d'ela eu nunca me esqueço

Por ela esse amor infinito
O amor mais bonito
É assim nosso amor sem limite
O maior e mais forte que existe.

Roberto Carlos
(Brasil)

De almas sinceras a união sincera


De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.



William Sheakespeare
(England 1564-1616)
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Amar!


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Carlos Drumond de Andrade
(Brasil 1902-1987)

Não deixe o amor passar: Carlos Drummond de Andrade

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.
Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.


Carlos Drummond de Andrade

(Brasil 1902-1987)

Beijo as tuas mãos e ajoelho perante ti

 

Beijo as tuas mãos e ajoelho perante
ti.....para te assegurar
que toda a minha mente, todo
o alcance do meu espírito, todo o meu
coração
existem apenas para te amar.


Princesa Carolyne Saynwittgenstein

Amor é... ; Cantodaalma






Amor é…
Ilusão que ilude até morrer
É sonho bom ou não
É solidão angústia desilusão.

Amor é…
Chama que se apaga e reacende
É ciúme, ódio, paixão
É aperto no coração.


Amor é…
Choro, riso, alegria
É tristeza e sofrimento
É mal-estar descontentamento.

Amor é…
Tudo o que a gente quer
Mas
Quem não tem amor
Quer ter
Até na hora de morrer.

cantodaalma
Portugal, Teixeira 1959

Ainda que eu fale todas as línguas do mundo



Ainda que eu fale todas as línguas do mundo, se me faltar o amor, sou como um bronze que soa ou como um sino que toca.
Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha uma grande fé, capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens para alimentar os pobres e entregue o meu corpo ás chamas, se me faltar o amor, de nada me serve. O amor é paciente, é prestável; o amor não é invejoso, não é arrogante, não é orgulhoso, não age com baixeza, não procura o seu próprio interesse. O amor não se deixa levar pela ira; esquece e perdoa as ofensas. Nunca se alegra com a injustiça e rejubila sempre com a verdade. O amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência será inútil, porque a nossa ciência é imperfeita e as nossas profecias limitadas. Mas quando vier o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando era como criança, falava como criança, sentia como criança, pensava como criança, mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança.
Da mesma forma, agora vemos como por um espelho, de maneira difusa, mas depois veremos tudo face a face. Assim, agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança, e o amor. Mas a maior de todas é  O Amor.

SANTO DE TARSO

Ainda que eu conquiste a terra inteira


Ainda que eu conquiste a terra inteira,
para mim só há uma cidade.
Nessa cidade para mim só há uma casa;
e nessa casa só há um quarto;
e nesse quarto, uma cama.
E a mulher que dorme nessa cama
é a alegria resplandescente
e a jóia de todo o meu reino.

Do sânscrito

22 de dezembro de 2011

Os versos que te dou



Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de faze-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei  depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escuta-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revive-los nas
lembranças que a vida não desfez...
E ao lê-los...com saudade em tua dor...

hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...
Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa

ao lado da cruz para onde eu vou...
Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.

J. G. Araujo Jorge
(Brasil 1914-1987)